quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Quem é Gonçalo Tavares?

Gonçalo M. Tavares (M. de Manuel) é um escritor português, tem 40 anos, é considerado o melhor da sua geração. Nasceu em Luanda, em 1970, porque os seus pais (a mãe matemática, o pai engenheiro) estavam em Angola, nessa época. Veio para Portugal aos 3 anos. De Luanda não tem recordações: só o que viu em fotografias. Passou a infância em Aveiro e, aos 18 anos, foi estudar para Lisboa. Formou-se em Educação Física e Desporto (na adolescência, jogou futebol nos juniores do Beira-Mar). É professor de Epistemologia na Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa.

Escreveu todos os dias durante doze anos (gosta de escrever em cafés) mas só começou a publicar livros em 2001. Foi bolseiro do Ministério da Cultura - IPLB com uma bolsa de Criação Literária para o ano 2000, na área de poesia. E em Dezembro de 2001 publicou a sua primeira obra: Livro da dança, na Assírio & Alvim. Nos últimos nove anos, já publicou 29 livros.

Jerusalém (Caminho) foi o romance mais escolhido pelos críticos do jornal PÚBLICO para Livro da Década. "Um Kafka português", chamou-lhe nas páginas da “Le Figaro magazine”, a escritora francesa Elisabeth Barillé. "Vai Gonçalo M. Tavares tornar-se um produto de exportação tal como o vinho do Porto e a saudade?", perguntava ela. A resposta só pode ser: sim.


"No panorama actual da literatura portuguesa não há ninguém tão aplicado na construção daquilo a que, com muitas suspeitas, chamamos "obra" - mobilizando a ideia de autor, de projecto e de sistema - como Gonçalo M. Tavares", escrevia o crítico literário António Guerreiro no “Expresso”, em 2004. Os anos passam, a análise torna-se mais pertinente. Quando começou a publicar (às vezes, vários livros por ano em diferentes editoras), M. Tavares foi considerado "a maior revelação literária dos últimos tempos". Veio depois a consagração com os prémios literários. Entre outros, em Portugal: Prémio LER/Millennium BCP 2004 e o Prémio José Saramago 2005. No estrangeiro: Prémio Portugal Telecom 2007, Prémio Internazionale Trieste 2008 e Prémio do Melhor Livro Estrangeiro 2010 em França.

Quem nunca leu a obra de Gonçalo M. Tavares pode começar pela série O Bairro, cadernos dedicados aos Senhores, que iniciou em 2002 com O Senhor Valéry e a lógica. É "uma espécie da história da literatura em ficção", uma utopia que vai no décimo volume. Permite uma leitura mais lúdica. Do lado oposto está a tetralogia O Reino, que reflecte sobre o mal, a violência e o medo: Um Homem: Klaus Klump (2003), A Máquina de Joseph Walser (2004), Jerusalém (2004) e Aprender a Rezar na Era da Técnica. Cerca de 160 traduções dos seus livros estão a ser feitas em 35 países.


Entrevista com Gonçalo M Tavares


Poema: O Mapa

Sempre senti a matemática como uma presença
Física; em relação a ela vejo-me
Como alguém que não consegue
Esquecer o pulso porque vestiu uma camisa demasiado Apertada
nas mangas.
Perdoem-me a imagem: como
Num bar de putas onde se vai beber uma cerveja
E provocar com a nossa indiferença o desejo
Interesseiro das mulheres, a matemática é isto: um
Mundo onde entro para me sentir excluído;
Para perceber, no fundo, que a linguagem, em relação
Aos números e aos seus cálculos, é um sistema,
Ao mesmo tempo, milionário e pedinte. Escrever
Não é mais inteligente que resolver uma equação;
Porque optei por escrever? Não sei. Ou talvez saiba:
Entre a possibilidade de acertar muito, existente
Na matemática, e a possibilidade de errar muito,
Que existe na escrita (errar de errância, de caminhar
Mais ou menos sem meta) optei instintivamente
Pela segunda. Escrevo porque perdi o mapa.


Análise:
 
Rima: 
 Não apresenta rimas, rimas imperfeitas.

Recursos poéticos:
 O eu-lírico dirige-se ao leitor, o poeta segue narrativa, não contem estrofes.

Análise formal:
  • Versos Livres
  • Estrofe de 20 versos
  • Contem Linguagem Obscena.

Poema: A Vida

Salta entre animais e plantas;
entra na pedra e respeita a sua paciência;
apodera-se do animal e vai atrás do seu sangue,
da ousadia de movimentos que existe
numa luta de toiros rivais.
Ganha a forma de cada forma
e a vontade de cada vontade.
Faz mais barulho de noite para provar
que mesmo aquilo que não é visto, existe.
Enche de verde a erva
e de vermelho a cara ingênua da rapariga.
Aceita as maiores extravagâncias da matéria:
está viva a coisa que se enrola em si própria,
mas também a coisa muito alta com duas bocas ou nenhuma,
ainda a coisa ruidosa quando respira e a coisa silenciosa
(como a luz a encher boa parte do copo vazio).
Tudo está vivo porque a vida não escolhe: salva o que nasce,
aquilo em que tocas, aquilo que vês, ouves.
E até aquilo em que pensas. 




Análise:
 
Rima: 
 Não apresenta rimas, rimas imperfeitas.

Recursos poéticos: 
 O eu-lírico dirige-se ao leitor, o poeta segue narrativa, não contem estrofes.

Análise formal:
  • Versos Livres
  • Estrofe de 19 versos

Poema: A Força


Nunca vi anjos nem aprendi orações
Como aprendi versos, mas desde cedo uma
Certa conspiração calma recolhida na parte
De trás da existência me foi dando
Conselhos, monocórdicos, pontuais;
Uma força constante que
Afastada dos dias e do seu ruído próprio
Me acompanhou. Nada de religioso, nenhum Deus,
Nenhum temor, nenhuma adoração,
Chamemos à coisa: disciplina. E assim está bem.
O mundo avança e acontecem coisas,
E o meu corpo recolhe-se e faz o que tem a fazer.


[In 1, poemas, Rio de Janeiro, Bertrand do Brasil, 2005, p. 155]
Análise:
 
Rima: 
 Não apresenta rimas, rimas imperfeitas.
Recursos poéticos: 
 O eu-lírico dirige-se a si próprio (Poeta), o poeta segue narrativa, não contem estrofes.
Análise formal:
  • Versos Livres
  • Estrofe de 12 versos

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Uma Longa viagem (Poema Original)

Na primeira vez que te vi eu não aguentei e o meu coração apertei
Mas foi demais cai no teu olhar 
Me apaixonei e o meu batimento aumentou 
E o teu cheiro me levou. 
E então o começo do meu dia
Acordo contigo no meu pensamento
E ai veio a alegria 
Conhecer-te foi formidável
Abraçar-te foi adorável
Beijar-te levou me ao céu 
Mas tudo isto foi em vão 
Não passou de uma mentira 
Sinto que foi um furacão que passou 
E agora estou em mil pedaços 
Eu queria estar ao teu lado 
Queria estar agarrado a ti 
Mas agora eu quero nadar até a outra margem 
Pois eu já estou a afogar 
E vai ser uma longa viagem